O livro “Models of Democracy” replica as convenções associadas a bestsellers que sintetizam, simplificam e tornam acessíveis a todos os leitores grandes temas.

Trata-se de uma colaboração entre Ricardo Valentim (Loulé, 1978) e o escritor e crítico de arte Stephen Squibb, a quem Valentim pediu para escrever textos curtos que enaltecessem as qualidades da publicação dos seus autores fictícios, obedecendo às técnicas de marketing editorial e preenchendo uma parte substancial das suas capa e contracapa.

O índice corresponde às espectativas, anunciando introdução, capítulos, notas e anexos. No entanto, quando folheamos o livro, reparamos que as páginas estão praticamente todas em branco, com exceção de umas quantas ilustrações baseadas em objetos construídos pelo artista e cuja relação com a democracia não é evidente.

O estatuto deste livro torna-se ainda mais complexo pelo uso de sistemas de catalogação próprios de biblioteca – carimbo, etiqueta na lombada, ficha de empréstimo colada na última página -, o que significa que o leitor que a ele aceder através de uma biblioteca pública se vai confrontar com estas normas em duplicado: dois carimbos, duas etiquetas, duas fichas de empréstimo.

A prática artística de Valentim analisa subtilmente convenções culturais e protocolos de apresentação da arte. Fotografias, filmes, conferências-performance, cartazes, folhetos e livros de artista conferem centralidade e autonomia a tudo aquilo que é considerado um apêndice na produção artística: as folhas de sala e roteiros produzidos por museus e galerias, folhetos que comunicam a programação paralela a exposições, conferências que ampliam o espectro de questões a elas associadas, cartazes anunciando ciclos de cinema comissariados por artistas. [Nicolau, R. in “Que sais-je? : Livros e edições de artista”].